13/09/2007

UM SÓ



Onde eu termino

E tu começas

As palavras são monumentos

Onde adoramos e crucificamos

Meias verdades

Em holocaustos ardentes.


Onde eu paro

E tu corres

Os corpos são estradas intermináveis

Sedentos de movimento

Onde caminhamos perdidos

Do amor dos Deuses.


Onde eu choro

E tu ris

A vida e a morte

São sementeiras cíclicas

Onde, vorazes, dançam os séculos

À volta do Homem.


Onde eu calo

E tu falas

O eco dos sonhos

Cresce nas paredes frias

De templos decadentes

Onde se tingiram os pecados

De santas absolvições.


Onde eu morro

E tu nasces

Respira-se o amor inebriante

De braços amantes que se completam,

Unidos,

Entre os céus e a terra.

Onde as partes

São o Todo

Eu e Tu

Somos um só.

21/05/2007

TÃO ANTIGO O SOM DAS PALAVRAS


Tão antigo o som das palavras

Como espelhos ardentes de desejos

Que se consomem em labirintos eternos

Ao sabor da tua pele

Onde a vontade é de percorrer os seus caminhos

Sem nunca querer chegar

Os passos que se deixam

Como mapa dos dias nos teus beijos

Acumulam-se na espiral que se transforma

Na teia que te acolhe e abraça

Não só no dia de hoje como no dia que acorda amanhã.

Adormecem os sonhos ao cuidado dos teus braços

Eternizados na coincidência das nossas almas

Que batem sonoramente com o mesmo coração.

A Lua recorta-se entre nós

Como a luz que abençoa para longe as sombras à nossa volta:

Fogo-fátuo desta vida

Caímos em todas as outras

Como seres unidos pela mesma espécie

A do AMOR.

12/03/2007

O TEU CORPO É A MINHA CASA


Todas as vezes da História.

Acontece.

Que do teu corpo me levante

Como a árvore que se ergue da Terra

Com raízes enleadas

Nos espaços férteis do teu coração.

De ti parto. A ti regresso.

Lar que abraço

Sendo abraçada.

Ponho a alma à lareira

E deixo o mundo lá fora.

Aqui dentro o Tempo passa

Apenas ao sabor dos nossos lábios.

As nossas mãos guiam-se sem mapas

Porque os limites esbatem-se em nós

De cada vez que chego aos teus braços

Depois do caminho escolhido.

O teu sorriso dançando no olhar

Ilumina a alma inteira que se te entrega.

A novidade és sempre tu

Na conquista demorada

Do meu corpo no teu corpo.

Não eras tu a presa

Que se deixava prender nos meus braços.


Era eu que me prendia a ti.

25/02/2007

PARA TI...


Para ti...

Serei jardineiro fiel que conquista novas espécies

Desfolhando novas pétalas ao sabor da tua presença

Novos ramos como os braços que te alcançam

Num mundo completo entre o Céu e a Terra.

Serei outro escritor perdido

Entre a imensidão das palavras

Que nunca chegarão para cumprir o desígnio

De todos os significados de ti em mim.

Neologismos por nascer apenas vivos no olhar.

Sempre entendidos entre nós
Como a mais perfeita linguagem do AMOR.

14/02/2007

...DOS NOSSOS...


Sim... era uma vez... uma vez sem história. Porque esta história não tem espaço nem tem tempo, como gostam de mandar as regras. E é uma vez sem história, sem espaço, sem tempo e sem provas para a situar. Esbatia-se assim na elipse provocada pela distância da memória. Falava-se que eram duas gotas quase idênticas no final (provavelmente no início também!), que graças ao seu “quase” (esse aparente nada praticamente total) cabiam uma na outra e ficavam completas. Milagre da Natureza ou fruto do Acaso?




E era “outra vez”...outra vez sem lembrança. Dizem os boatos para fazer crer que são os Deuses que estão loucos...ou pior: que não existem! Mas a verdade é que não há fumo sem fogo. E os boatos são restos de labaredas que Prometeu ofereceu ao Homem a troco de nada. Verdades esfumadas que se disfarçam de lendas inacreditáveis...que duas chamas, aparentemente idênticas, consumiam-se uma na outra e, ao contrário de se apagarem, edificavam o próprio fogo que arde no Olimpo. Obra de Hefesto ou simples vontade humana?




E como não há duas sem três...assim reza qualquer máxima supostamente lei, deslocam-se por aí, palavras que passam ao sabor do que se sente e do que não se entende (pois assim, é coisa do coração!) e não há razão nenhuma que se equilibre entre os ventos Alísio e Siroco. Apenas as brisas discretas, que se escapam dos gigantes, e dançam em pares unidos pelo mesmo centro: lá dentro eleva-se uma verdadeira tempestade. Soltam-se os cabelos ou amarra-se o coração?




Quando alguém conta um conto e deixa outrém acrescentar um ponto prende o “Era uma vez...” à terra e larga o seu “Fim” nos céus. Papagaio de vento com sombra no chão, apanha-lo tu? Apanho eu? Preso por uma ponta, este sonho ficou mesmo na areia. E despertou, de maneira igual, em dois seres nascidos do pó. Dizem as más-línguas que um derivou do outro e, por isso, “um” seria inferior. Sabe-se, no entanto, que as notícias, mesmo que não corram ligeiras, chegam sempre ao seu lugar. Um e outro são do mesmo barro e ocupam o mesmo espaço, quando olham verdadeiramente dentro dos olhos de cada um.




As perguntas ficam para trás...que agora é hora de respostas.




O que arde nas ondas que voam da terra do Homem e da Mulher é o que compõe aquilo de que é feito o verdadeiro AMOR.




Um único beijo.

04/02/2007

NO TEU OLHAR O PRINCÍPIO E O FIM...


Secretas vozes
Docemente
Entre as cortinas do Tempo e do Espaço
Suaves mãos acordam os anos
Atrás do encantamento que nos adormecia.
O primeiro olhar
Entre nós os dois
Demorou-se um pouco mais do que a eternidade.
E tudo à nossa volta
Desfaleceu, de repente,
Como um corpo que lentamente se despe...

16/01/2007

POEMA DE "ONTEM", NA NOITE DE HOJE, PARA "AMANHÃ"!


1ª noite

Por vezes,
É o silêncio da noite
Confundido com o da eternidade
Que me deixa seguir a tua voz
Desembaraçando-me deste corpo
De passos adormecidos
A um canto da realidade.
Muitas vezes,
É o caminho da madrugada
Que se estende num abraço
Entre o meu espírito e o teu
E que me liberta, segurando-me,
Nas raízes das tuas palavras.

2ª noite

Apaga a luz mas não as estrelas.
Esconde o dia num bolso qualquer
De uma roupa que abandones
Ao sabor da tua noite.
Cada contorno das tuas palavras
Explode em mil sóis
Quando tocam o limite da pele.

3ª noite

As palavras revoltas
Na ansiedade da ausência
Como tempestade apertada no nó do peito
Trabalham a alma em espirais eternas
Contra o que próprio Tempo quer.
O corpo suporta
O barro anímico
Ao qual dás a essência tranquila
Em forma de outra vida
Nascida por entre hábeis dedos escultores.

4ª noite

Gostava de gravar em mim os desenhos que inventas
Como mapas tatuados
Onde a minha alma que não está aqui
Aprendesse a caminhar
Para além das esquinas que despontam em auroras
Recortadas do passado.
Este tempo que me anoitece
Não é o mesmo no qual desperto.

5ª noite

É quando o corpo se deita e a alma desperta
Que a vida se desenrola dos fios da teia:
A verdade para além das palavras.


6ª noite

Escuto as vozes que vêm no vento
Enlaçadas em fios de prata
Que nos unem como contas
De um colar ao pescoço dos deuses.
Partido em mil palavras
Por mil vidas
Se espalha
Através do Tempo que se reflecte no espelho da eternidade.
A alma do Homem
Procura refazê-lo
Para unir as suas metades:
Homem/ mulher.

7ª noite

Acordo para a ilusão
Que ganha a força do rasto de uma lágrima.
Palavras há muitas.
De noite para o dia...Leva-as o silêncio.

10/01/2007

"HIGHER LOVE"


Deixo as palavras escurecidas pela saudade
À luz do candeeiro que acendo no teu amor
Leio a tua alma em páginas soltas entre os meus dedos
Como a leitura sem sono que me embala num sonho sem fim
Encontro-te por entre as brumas de tudo o que somos
E visto-te despindo-te do real quotidiano
O teu olhar encontrando-se com o meu
À hora marcada pelo Senhor do Relógio
Desde o primeiro momento em que se lembrou
De conduzir o Homem através do Tempo.
Compulsivamente lutando contra os ponteiros
Marcamos as mãos nas mãos um do outro:
Tu segues-me e eu vou.
Eu sigo-te e tu vens.
Num marejar constante de ondas vitais
Que partem do oceano das nossas existências.
Conto na Noite as letras do teu nome
Que em mim se formam em novas constelações
Aí sou navegante que descobre o futuro
Nas linhas que se cruzam desde as palmas das tuas mãos
Ao resto do céu inteiro.
E tudo o que me dizes são luzes de estrelas-guias
Que não deixam pegadas na areia:
Porque marcam passo no meu coração.

03/01/2007

EM FRENTE...


No Tempo que se desenvolve à tua beira
Como essência nova descoberta
Que se despe do teu corpo no meu corpo
Os aromas esbatem-se na troca de limites
Que habitam, naturalmente, em nós,
Em jeito de espiral.
Chegamos e partimos
E assim sucessivamente,
Um no outro,
Como barcos do mesmo cais,
Do mesmo mar,
Com o mesmo rumo...
Olhando bem,
É um único barco
Partindo de um único cais,
Neste imenso mar
Em que trilhamos o mesmo rumo.
Somos nós.
O caminho em frente é nosso.