27/11/2006

CÍRCULO COMPLETO


Eras tu e era eu.
Dois espíritos soltos no mesmo labirinto.
Os fios não chegavam
A todas as palavras por dizer.
Matéria do mesmo destino
Elementos de um idêntico querer
Não querendo ser o acaso
No ocaso do dia anterior.
Eras tu e era eu.
Corpos em silencioso desalinho
De uma dança em vendaval
Sem passos marcados
Do princípio ao seu fim.
Ritmos cadentes sem direito a desejos
Nas estrelas que caíam a nossos pés.
Eras tu e era eu.
Os gritos desligados da sua melodia
Enquanto os significados se entrelaçavam
Na contagem infinita das Horas
Que espreitavam tão longe,
Lá daquele passado,
Disfarçando-se, agora, de sonho:
Corpo feito em Tu e Eu.
Realidade:
Somos os dois apenas um.

CRENÇA DO PASSADO


Sou daquele a quem a voz diz menos do que o silêncio.

Sou daquele a quem reconheço olhar após olhar, desde o princípio dos tempos até ao final da consciência deles.

Sou daquele que me espera por uma jura eterna.

E nada terá fim.

Curtos serão os séculos perante um breve toque mútuo...as nossas mãos, que brincarão juntas um dia, construíram, outrora, o primeiro homem e a primeira mulher para perpetuarem o eterno: o Amor.

Fomos Deuses; fomos tudo...Somos nada separados. E, por isso, esperamo-nos em todas as vidas que vivemos. Buscamo-nos, adormecidos pela mútua ausência, que nos dificulta a reunião.

Mas ele sente-me...e eu sinto-o. Vemo-nos, por enquanto, com os olhos da alma. Tranquilizamo-nos, irrequietos, por sabermos ver para além desta vida.

Lá longe...estaremos, sempre, tão perto.

23/11/2006

EU e TU


Um quarto da lua
Na soma das metades
A minha outra parte
Com a parte que é a tua
Em adição crescente
Transcendendo todas as operações
Físicas ou matemáticas
Conhecidas na Terra ou no Céu
No dia que se despe
No corpo da Noite.
Uma gota de água
Que se revolve em oceanos
Na costa que avança
Da terra do teu corpo.
Conta contínua
Superando qualquer sinal
Desenhado nos traços do igual.
O meu passo atrás
O teu passo à frente
É outra questão de perspectiva
De quem abraça ou é abraçado:
Estamos voltados para o mesmo lado.
Uma frase decomposta
Numa tua palavra
Ou numa minha palavra
Têm o mesmo significado
Quando se pede a tradução.
Mas quem a pedir
Não acerta nesta mágica soma
Aparentemente inacabada
Porque no intervalo aberto
Só conhece estes códigos
Quem respeita, ignorando,
A solenidade destas regras:
Fechadas no infinito
Do uníssono partilhado
Entre estes dois bater de corações
Que de, supostamente, dois
Se faz, logicamente, um.
Conta terminada:

Eu e Tu.

20/11/2006

ÉDEN NO TEU CORPO


Diz o meu nome na brisa

que povoa o teu coração

acariciando em mim as sílabas que restam

em gestos lentos de quem acorda,

finalmente,

nos braços de quem ama.

Toca o meu corpo na areia

que recebe, também, o teu

juntando para além das nossas almas

o limite um do outro,

um no outro,

como o indizível que se adivinha no olhar.


Sou o tempo que não se conta à tua beira

como a onda que nasce e renasce

de cada vez que regressa à linha da costa

na linha dos teus braços contornados em mim.

Sou a palavra mais do que completa na tua boca

como o beijo cúmplice e roubado

ao silêncio gritante um do outro

que fica marcado em códigos secretos na nossa pele.

Sou o sonho concretizado

docemente murmurando desde este passado

que me falava sempre de ti:

um eco que encontrou resposta.

Sou o próprio sorriso personificado

que nasce dos teus lábios

e termina no brilho do meu olhar em valsa perpétua...


Porque tu existes dentro de mim.

15/11/2006

VIDA NOVA

Inauguramos a vida
Do outro lado da chuva
Trazendo o início do sol dentro do coração.
Renasce das cinzas
Do passado inteiro
O alento de um calendário por estrear.
Pouco tempo para viver...
Porque os passos do fogo que arde em nós
Sabem à própria eternidade.
Para além de todo o caminho
Que nos envolve à nossa frente.
...
Um beijo a troco do resto do mundo.

11/11/2006

MESMA ESSÊNCIA


Vi o sol nascer
Com o brilho que era de ontem
Quando ainda te esperava
Com a fome do dia de amanhã
Porque hoje era o teu regresso.
O sol nasceu sozinho
Num parto lento e doloroso
Como quem abre os olhos para a vida
Com a sombra da morte
A morar na alma,
Porque herdou apenas um fantasma.
E quando olho o sol de hoje
Vejo para além do passado
Onde meu ser aí te encontrou
Numa voz de jura eterna
Que desmaiava toda a solidão
Porque somos a mesma essência.